sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pela liberação imediata de todas as drogas

Este blog é a favor da liberação de todas as drogas. Porque não vivemos na idade média. E porque não somos favoráveis a chafurdar na lama entorpecente do senso comum. Liberar não significa incentivar o uso, mas apenas dar o direito, a quem quiser, de usar o que quiser. O resto é conversa mole de panaca que abandona a discussão após a segunda pergunta. Uma curiosidade: alguém aí já viu alguma pesquisa que indique quantas pessoas morrem em decorrência do uso de drogas e quantas morrem por causa do tráfico de drogas? Tal pesquisa não existe, seria desconfortável para certos setores. A "problemática das drogas", como dizem os idiotas, está ligada ao tráfico, não às drogas. Se proibirmos a venda e o consumo de paçocas, em dez anos estarão matando por causa das paçocas. E os idiotas farão discursos fáceis sobre "a problemática das paçocas". Enfiarão mais e mais dinheiro público no ralo para organizar congressos e seminários, montar "equipes multidisciplinares" e "construir políticas públicas" que não chegam a lugar algum.

Por que as drogas são proibidas? "Se tiver um plebiscito, você verá que a maioria da população é contra a liberação", responderá algum cérebro de paca. Ora, a "população" só quer o que enfiam na cabeça dela. Triste, chavão, lugar comum e verdadeiro. O Joãozinho comprar uns baseadinhos é crime, o médico encher o Joãozinho de antidepressivos não é crime. É disso que a "população" gosta: andar anestesiada por aí, trabalhando para sustentar a indústria farmacêutica. A verdade é que a proibição das substâncias psicoativas, bem como a guerra decorrente dessa proibição absurda, engorda uma matilha de cafajestes. Tem gente que vive disso. Candidatos pregam o "endurecimento contra as drogas", seja lá o que isso signifique. Com esse discurso fútil, delegados fogem do trabalho para viver na mamata dos cargos eletivos, mas fazem vistas grossas quando seus amiguinhos deputados cheiram toneladas de pó na sua frente. Hipócritas.

O discurso está armado justamente para pegar a "população que é contra a liberação", conhecida como massa de manobra em bom português. A população de cérebros da javali que recebe patadas durante quatro anos, mas que segue bovinamente, no dia da eleição, para votar em trastes; a população que trabalha e paga impostos para manter uma polícia que achaca e libera os traficantes "que matam os seus filhos". Tudo faz parte do projeto "das sensaçã das inseguranza": a violência é a melhor arma para manter o populacho em seu lugar. Rende os melhores discursos eleitorais. Perpetua a existência da polícia, que defende apenas o patrimônio e não combate o crime por um motivo óbvio: se o crime não existisse, a polícia não teria necessidade de existir. Em nome da "segurança", todos aceitam ter suas vidas invadidas. Hoje são as câmeras em locais públicos, amanhã será o registro único, o toque de recolher. Com "aprovação" da massa de manobra, aquela que paga impostos, passa a vida em filas, come lixo e vota em trastes. Os inimigos eram os comunistas, hoje são as drogas. E só existe uma coisa pior do que fazer papel de palhaço: fazer papel de palhaço sem se dar conta de que se vive sob a lona de um circo.

Se você não gostou, não fique tristinho. Tome seu antidepressivo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Matusquela Secatronco, o carrega-sacos

Matusquela não foi a Tróia: alegou que não tinha exércitos e que preferia ficar na cidade a analisar a defesa com quatro homens. Em verdade nunca teve exércitos mesmo, sempre foi dado homenagear os alheios. Ainda jovem passou a desfrutar das belas amizades, o que lhe garantiu o livre uso de sua verve empesteada. Falou aqui e ali, sempre saindo pela porta dos fundos; frequentou os debates com suas roupas amassadas, demonstrando nojo pelas roupas amassadas dos outros; citou opositores todas as vezes que pôde, apenas para xingá-los; esbravejou, não colocou as naves no mar e não chegou a lugar algum. Matusquela é o jardinete. O amargurado, o repetente, do nada o expoente. Tem saudades do que era nada, quando seus amigos faziam o intragável feijão com arroz a serviço de alguém. Acha belo o serviço a alguém. O Matusquela quer que tudo se modernize, mas é contra a modernidade; vira o balde, seca os troncos, chuta os cachorros, quer a diferença mas não gosta do que é diferente; não tem espelho em casa, não se enxerga. Fala para bovinos, repercute entre porcos, batuca para galinhas. Distorce o que pode, e o que não pode manda distorcer. Mas carrega sacos como ninguém, admitamos, em sua indescritível tendência para gostar do que não presta. Frequenta velhacos. Baba ambrosia entre os podres. Rasteja falas. Mastiga desprezo. Reunidos, são feios como javalis. Destrincham o que apetece os urubus. Aparecem juntos em certas noites, Hécate à frente.

Este texto integra a série "Ogres do Paraná". O livro será lançado quando eu conseguir puxar suficiente número de sacos por aí.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sãopaulinho só nos piores aspectos

Estaria a capital-cocô sofrendo de alguns dos males paulistanos, pergunta a Gazeta do Povo deste domingo. Se considerarmos que a população daqui é quase dez vezes inferior à população de lá, chegaremos à conclusão de que nossos "administradores" não passam de incompetentes. É que eles se acostumaram a gastar mandatos pensando na próxima eleição. No que tem de pior certamente ficaremos como São Paulo: quatro horas no trânsito, transporte coletivo de arrebentar o saco de qualquer um, alagamentos, etc. Só não teremos o que eles têm de bom. Continuaremos sem opções culturais, sem restaurantes depois das onze da noite, sem orquestras e sem shows internacionais, como estamos há uns dois anos, porque uma meia dúzia qualquer resolveu que assim seria. Quer ir ao cinema? Só enlatados no shopping center. Você ficará uma hora na fila do estacionamento, uma hora na fila para comprar a entrada, uma hora na fila para pagar o estacionamento e uma hora para sair do estacionamento. Ouvindo, é claro, as lorotas dos curitibanos. Foi-se o tempo em que entrávamos tranquilamente no cinema: agora é preciso enfrentar o inferno. Os cinemas que passavam filmes alternativos foram FECHADOS pela Fundação Cultural de Curitiba em uma administração quer certamente se preocupa muito com a cultura. Porque esta é uma cidade de ignorantes, inchada com ignorantes de outras cidades. Nada acontece por aqui. Nada. Portanto, camaradas, preparem-se para o pior. Na Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, a capital-mesmice do Brasil, as coisas só tendem a piorar - do trânsito à violência, da poluição à roubalheira, e principalmente na mentalidade da patuléia de babacas que habita esse fim de mundo.

sábado, 14 de agosto de 2010

A pequena história de Tersites, o Pequeno

Quando voltou de Tróia, Tersites estava barbubo. Havia guardado histórias rentáveis entre os despojos de guerra e contratado meia dúzia de borra-botas para armazená-las, acomodá-las na nave, carregá-las através da planície. Ao chegar, Tersites sacou sua espada, chamada mentira: disse que os que ainda não haviam regressado tinham sido devorados por bestas do mar, ou parado em alguma ilha para praticar o que há anos não faziam em casa; disse que Aquiles tinha protegido o calcanhar e que àquelas horas se banhava com algum de seus preferidos; que Tróia era feia, cheia de esgotos fedidos, e que em nada lembrava sua pólis natal. Todos se escandalizaram; perguntaram sobre a barba e o que escondia, mas Tersites garantiu que não havia cicatriz. Instalado em uma travessa qualquer, passou a se untar com as glórias típicas do foliculário: descreveu batalhas que não presenciou, mulheres que não conheceu, inimigos dos quais fugiu. Frequentou palácios, deu tapinhas nas costas, inventou saqueadores do campo que foram expostos na ágora durante os debates da pólis. Trabalhou em assembleias sem frequentá-las, apunhalou pelas costas antes e depois de ser apunhalado. Deu-se ao luxo de cultivar momentos de lirismo abjeto, a observar a gota que cai e não volta. Ele sabe que não tem volta. Acima de tudo imaginou-se o escriba, muito antes de Virgílio um chapa-branca; chamou então mais borra-botas para que escrevessem com veneno, enquanto passava noites a beber vinho, reverenciado como um guru. Tersites é o amigo do tirano, frequenta sua casa e bebe o vinho. Tersites agora é inimigo do tirano, vai da água ao vinho. Seu nome é espreita. Retoca faces aristocráticas. Publica o que deseja, o prosélito das mais desprezíveis intenções. Essa é a nauseabunda história de Tersites, o Pequeno. Aquele cuja única função, na expedição à Ílon dos fortes ventos, foi ocupar espaço no navio.

Este texto integra a série "Ogres do Paraná". O livro será lançado quando eu conseguir puxar suficiente número de sacos por aí.

A capital ecológica do Brasil


Esse é o "trabalho" da prefeitura de Curitiba no aterro da Caximba, que está com a vida útil vencida há uns dez anos. A prefeitura se faz de morta e aumenta cada vez mais o uso do aterro, que polui o rio Iguaçu. A Justiça assina embaixo.


Tem cachorro morto, tem caca pra todos os gostos. Esse é o cuidado da prefeitura de Curitiba com o meio ambiente e a saúde pública, que rende até prêmio internacional. Há algum tempo, moradores da região tentaram bloquear o acesso dos caminhões, mas algum juiz, estranhamente, determinou que se retirassem. A licitação para a contratação da empresa que fará a gestão do lixo foi suspensa pela Justiça. Motivos não faltam. O candidato que lidera as pesquisas para o governo ficou seis anos na prefeitura e não chegou nem perto de resolver o problema. É que ele preferiu usar seu tempo para antecipar a campanha e viajar pelo interior, nas barbas da Justiça Eleitoral.


Essas fotos são para que pessoas de outros estados e cidades vejam como as coisas funcionam em Curitiba. Por aqui não adianta falar nada. A caipirada, que raciocina como um bovino, segue anestesiada. Vota em qualquer estrupício, fica na fila do shopping, xinga no trânsito, enche a pança de porcaria e "se instrui" com a desgraça sertaneja.

Quem não gostou que vá passear na Caximba.