Matusquela não foi a Tróia: alegou que não tinha exércitos e que preferia ficar na cidade a analisar a defesa com quatro homens. Em verdade nunca teve exércitos mesmo, sempre foi dado homenagear os alheios. Ainda jovem passou a desfrutar das belas amizades, o que lhe garantiu o livre uso de sua verve empesteada. Falou aqui e ali, sempre saindo pela porta dos fundos; frequentou os debates com suas roupas amassadas, demonstrando nojo pelas roupas amassadas dos outros; citou opositores todas as vezes que pôde, apenas para xingá-los; esbravejou, não colocou as naves no mar e não chegou a lugar algum. Matusquela é o jardinete. O amargurado, o repetente, do nada o expoente. Tem saudades do que era nada, quando seus amigos faziam o intragável feijão com arroz a serviço de alguém. Acha belo o serviço a alguém. O Matusquela quer que tudo se modernize, mas é contra a modernidade; vira o balde, seca os troncos, chuta os cachorros, quer a diferença mas não gosta do que é diferente; não tem espelho em casa, não se enxerga. Fala para bovinos, repercute entre porcos, batuca para galinhas. Distorce o que pode, e o que não pode manda distorcer. Mas carrega sacos como ninguém, admitamos, em sua indescritível tendência para gostar do que não presta. Frequenta velhacos. Baba ambrosia entre os podres. Rasteja falas. Mastiga desprezo. Reunidos, são feios como javalis. Destrincham o que apetece os urubus. Aparecem juntos em certas noites, Hécate à frente.
Este texto integra a série "Ogres do Paraná". O livro será lançado quando eu conseguir puxar suficiente número de sacos por aí.