quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Prática diária de leitura abstrata
A grande serventia da rede é ensinar a não ler. Dada a inutilidade do chamado conteúdo, restaria a forma, que é podre, porca, relaxada. Portais, megaportais e plataformas interplanetárias deviam ter vergonha e contratar pessoas que saibam ao menos juntar letras. Mas não tem sido essa a política dos bocas-de-burro; querem correr para dar a mesma lenga burocrática de sempre, o mesmo prato sem sal, as mesmas caras. Basta ler os nomes de certas personalidades para um inenarrável sono se apossar de meu ser; e acontecimentos então; e os temas. Nada porém como os blogueiros, principalmente alguns de província. Entretem-se com frases sem estilo, esfaqueiam pontos, usam vírgula entre sujeito e predicado; sempre a puxar sacos, intercalam frases e falas de desocupados com opinião para tudo, opiniões sobre tudo que nada valem. Sites, portais, blogs, plataformas interplanetárias e tuiteiros de merda: as pessoas leem isso. Depois que o ser humano aprende a ler, nada é não-lido, qualquer amontoado de letras é automaticamente decifrado. Tenho certeza de que o resultado disso é um depósito de cocô no cérebro, um arquivo de informações desprezíveis, um gigantesco cansaço sem propósito, um acervo de vontades satisfeitas ou frustradas, um aterro sanitário de inutilidades a consumir minha sagrada energia, que deveria estar sendo dedicada a qualquer outra coisa neste exato momento. Hoje, só tenho a agradecer aos imbecis, bem como à imbecilidade em seu âmago de mediocridade gestada: graças a eles, descobri que posso apenas passar os olhos pelas letras, sem nenhuma reação, sem que signifiquem nada. Nada.