domingo, 7 de março de 2010

O transplante do pinheiro

(Aos poetas que circulam pelas ruas da capital-cocô)

observo-os daqui e sinto
que nunca chegarei ali
naquele ponto de genialidade extrema
que termina sem ter começado
que termina sempre cagado
no paralelepípedo fedido e molhado
inexpressivo, pestilento e exaltado;
é um tal de polaco pra cá,
polaco pra lá, bigode,
cerveja quente no quintal
e palavras colocadas a esmo,
e eles saem, andam, voltam, vomitam e dormem,
veem o que ninguém viu,
teorizam sobre o bife sujo no palito, as putas,
a casa de madeira na barreirinha, o jardim no pilarzinho,
os livros da biblioteca pública,
as andanças em cafés do teatro
e aqueles dias na universidade fedegal do baganá;
e o que seria sem a riachuelo, os hai-cais da muricy
homens de chapéu na rui barbosa,
pipoca no passeio público, sentimentos de guadalupe,
miçangas da ordem, feirinhas, chuvinhas a mais:
palavras a esmo, defecadas sim.
e eu aqui,
observo-os e sinto
que nunca, nunca
estarei ali
porque é um tal de polaco pra cá,
polaco pra lá
saldanha marinho, bilhar,
fotos em preto e branco, e o bar,
banheira da mara, anarquismo de museu
neoneopitagóricos, sonhos no banco
da praça tiradentes, e um amigo
que certamente já morreu;
invariavelmente bebedeira,
musa de colossal e abismal besteira,
e penso
é tão fácil ser um bêbado,
é tão difícil ser um abstêmio,
e penso, relato
é tão fácil ficar bêbado
e chato