segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não foi o sol que me deixou assim

Quarenta graus na sua cabeça, o sinal fica vermelho a cada quadra. Você anda um quarteirão e é obrigado a parar. Macacos sem educação buzinam, é a única de forma com que conseguem se expressar na pestilenta vida que levam. Caminhão fedorento, o lumpen enfiando panfletos dentro do carro. Agentes da Diretran esperando que alguém perca a paciência, para multar e arrecadar, para que os patifes que se penduram em órgãos públicos façam suas campanhas cheias de criancinhas brancas. IPVA, licenciamento do veículo, impostos: pra isso. Pra isso. A cada dia me questiono mais sobre as crenças cristãs: quer dizer que, depois de tudo isso, ainda há a possibilidade de um inferno? É isso que estão tentando me dizer? Quer dizer que o inferno ainda vem? Ainda bem que isso é apenas uma crença, não sou obrigado a acreditar. Não há salvação.

Tarde de domingo, entro em uma desprezível panificadora de milionários na avenida sete de setembro. Gente porca de nariz empinado, comprando pãezinhos, “os mais torradinhos” como dizem eles, do alto de sua sabedoria milenar; uma gentalha que compra lixo, que compra presunto, que degusta carne podre. Rameiras vagabundas em seus trajes de verão, advogados velhacos em seus preciosos fins de semana. Uma abelha pousa na minha camiseta, peço para minha esposa apenas assoprar. Que a abelha procure ambientes mais saudáveis do que aquela pocilga. Uma velhota se oferece para tirar a abelha. Bate nela, que cai no chão. A velhota, sem pensar, esmaga a abelha a com o pé. “Eu já fui picada e quase fiquei sem ar”. Ah, é mesmo? E eu com isso? Que bonito. Que gente educada, que gente preparada. Esmagando uma abelha sem pensar. Poderia eu esmagar essa velha porca? Poderia eu esmagar essa vadia que compra quitutes em uma panificadora de filhos-da-puta? Poderia eu esmagar essa pedante, esse pedaço de merda seca que circula pelas ruas sem o mínimo de educação e de bom senso, sem o mínimo de respeito por qualquer ser que vive? Esse autêntico saco de merda líquida, essa eleitora de gente que não sabe nem ler direito? Minha vida é governada por gente como ela. A democracia é a tirania dos idiotas, dos que só pensam no próprio rabo. Dos que dariam ao estado o direito de matar qualquer um, apenas para garantir seus pãezinhos torradinhos num fim de tarde qualquer. É a tirania dos que valem menos que as abelhas que esmagam com seus pés.

Saudades dos gulags.